Um Blog de dois erres, para todos os errantes.

segunda-feira, 21 de maio de 2012

Sonho que se sonha só...

Por Rosa Estrada

Semana passada, eu li uma breve entrevista com uma atleta do jiu-jitsu, aspirante ao MMA. As perguntas eram meio bobas, todas focadas em como a moça conseguia, ao mesmo tempo, ser lutadora e mulher (com todas as implicações do gênero, criadas pelo senso comum). Mas enfim, a pergunta que me chamou atenção foi aquela inevitável quando a interlocutora é bela e jovem: "você tem namorado?" A moça respondeu que não, pois ela treina de 6 a 8 horas por dia e, segundo ela, é difícil encontrar alguém que entenda a sua rotina regrada. Isso me fez lembrar de uma outra esportista, dessa vez uma jogadora de basquete, que certa feita declarou que não se casou porque os homens com quem ela se relacionava sempre pediam que ela escolhesse entre eles e a bola. A atleta, espertamente, optou pelo esporte.
Sou completamente sedentária, mas todos sabem que qualquer atleta profissional tem uma rotina, de fato, bastante puxada e disciplinada. Porém, o que eu acho curioso é que, quando as esportistas são mulheres, elas sempre têm que explicar o porquê de estarem solteiras, caso estejam, e, quando explicam, muitas vezes atribuem a sua solteirice ao fato de ser difícil achar um parceiro que entenda seu modo de vida. Mas eu nunca vi um atleta do sexo masculino deixar de namorar/casar por conta de sua profissão. É muito comum ver jogadotres de basquete, lutadores ou o que quer que seja, casados. Geralmente, as namoradas/esposas parecem ser bastante compreensivas com suas rotinas de treino e ainda se mostram dispostas a acompanhá-los em viagens. Só que para o homem, quando se relaciona com uma mulher cuja carreira despende tamanho esforço e dedicação, a impressão é de que é muito mais difícil, praticamente impossível acompanhar e apoiar a parceira em seu trabalho. Por quê?
Na minha opinião, as mulheres são criadas para desenvolver uma capacidade muito maior de se doar pelo outro. Abdicar de seus próprios interesses para acompanhar e apoiar alguém, cujas aspirações parecem ser muito mais importantes do que as delas. Nisso se inclui o tal do amor materno, aquele que dizem que é incondicional, que supera qualquer coisa. Parece que a sociedade quer que toda mulher aja de acordo com esse padrão estereotipado de mãe, mesmo que a mulher não tenha filhos. Ela deve ser a mãe do companheiro, aquela que o apoia, o ajuda e o acompanha, ainda que isso implique numa auto-anulação. Mas vá exigir que um homem faça o mesmo. Ah, isso nunca! Muitos homens devem achar um absurdo ter uma companheira que se dedique com afinco à sua profissão, chegando ao ponto de às vezes terem a arrogância de pedir para elas escolherem entre eles e a carreira, como fizeram com aquela jogadora de basquete que eu mencionei, no início do post. E isso não acontece somente com esportistas, mas com profissionais de todas as áreas. Quem são eles para acharem que podem ser mais importantes do que um sonho, um projeto de vida? São coisas que incutem no senso comum. Os planos e sonhos dos homens é que são importantes, os que valem a pena. E as mulheres têm sempre que estar dispostas a abondonar os próprios projetos para agradar seus homens, afinal tudo o que uma mulher pode desejar na vida é casar e constituir família, não é mesmo?